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02/08/2012

O PÉ-DE-PANO DE SERTÃOZINHO E AS PULSEIRAS



O PÉ-DE-PANO DE SERTÃOZINHO E AS PULSEIRAS
Por: Escritor ADhemyr Fortunatto

Texto publicado no JR - Jornal Notícias, (www.jornalnoticias.com.br),
na edição de 20/07/2012.

O Pé-de-Pano de Sertãozinho também não sabia, em sua juventude,
como conquistar uma mulher. Ele pensava que era só pedir...
Certas coisas, o Pé-de-Pano aprendeu com o tempo que
 não se pede, --- conquista-se!
E coisas da noite na cama podem sofrer (e quase que sempre sofrem!)
 consequências do que foi houve no dia.
“Quê?”, falaria o Pé-de-Pano de então, “noite é noite, dia é dia”...
Ele só aprendeu de fato que amor não se pede, se conquista, quando
certa noite em que ia ao banho, então ainda casado, viu a esposa dormindo,
 e a desejou...
Mal coberta, ela parecia oferecer o que ele estava querendo...
Até chegou a imaginar que ela não estaria dormindo, fingiria, oferecendo-se...
Esquecendo-se até do banho e do mau cheiro que exalava de si, tirou a cueca,
foi à cama, e chegando bem perto do ouvido dela falou baixinho:
---Oi... Tô sem cueca!
Aí ela, meio que dormindo:
---Ah...?!... Amanhã eu lavo uma...
E virou-se para o outro lado, para dar sequência ao sono.
Mas ele, já alisando... os cabelos compridos dela, insistiu:
---Eu quero amá-la!
Aí ela, já impaciente, mas sem abrir os olhos, disse:
---Está em cima do guarda-roupa.
Aí o Pé-de-Pano de Sertãozinho, fedido, peladão e excitado,
já ficando aborrecido, ainda resolveu persistir com voz mansa:
---Eu vou amar-te...
Aí ela não aguentou! Baita olhos arregalados, ela sentou-se na cama,
 toda irada e descabelada, e sacudindo os braços cheios de pulseiras,
que batendo umas nas outras emitiram um som bizarro na noite
silenciosa de Sertãozinho, gritou:
---Vá a Marte, vá a Júbiter, vá à puta que o pariu, mas me deixa dormir; merda!...
Aí o Pé-de-Pano de Sertãozinho, enfim, cabeça baixa --- duplamente ---, foi ao banho,
sob o eco do som cavernoso das pulseiras.
Aos poucos o silêncio de novo abocanhou a noite de Sertãozinho.
Como era antes.

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ADhemyr Fortunatto - Escritor.

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